‘Violência de ataques bolsonaristas me fez investir em educação digital’, diz Felipe Neto – 14/10/2021 – Laura Mattos

‘Violência de ataques bolsonaristas me fez investir em educação digital’, diz Felipe Neto – 14/10/2021 – Laura Mattos


Uma das maiores personalidades da internet no Brasil, com 71 milhões de seguidores nas redes sociais, Felipe Neto vai investir na educação midiática de crianças e jovens. O Instituto Vero, criado por ele, dará início à capacitação de professores para que ensinem os alunos a se relacionar de forma crítica e saudável com o ambiente digital.

Em entrevista à coluna, o comunicador afirmou que a ideia surgiu quando ele, que hoje se coloca politicamente como defensor da esquerda, começou a ser atacado nas redes por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro. “A violência daquilo me fez enxergar que a única arma para vencermos esse tipo de coisa é a educação digital.”

Segundo Felipe Neto, o objetivo é implementar em escolas e em empresas uma metodologia que ensine as pessoas a se blindar contra notícias falsas e grupos de ódio. Eleito em 2020 pela revista “Time” como uma das cem pessoas mais influentes do mundo, o youtuber fez um aporte inicial de R$ 1 milhão para fundar o Vero. No próximo mês, seu instituto firmará parceria com o da ex-deputada federal Manuela D’Ávila (PC do B), E Se Fosse Você, também voltado à educação midiática, e com a prefeitura de Niterói (RJ) para a formação de professores da rede municipal.

O projeto, de acordo com Felipe Neto, não utiliza verba pública e pretende integrar a educação midiática ao currículo escolar. Dono de um império construído principalmente com a audiência infantojuvenil, o comunicador tem buscado conectar a sua imagem à educação. Além do Instituto Vero, sua produtora de conteúdo, a Play9, em parceria com o jornalista João Pedro Paes Leme, produz o “Conversas que Importam”. Nesta quinta-feira (14), às 14h, o programa do YouTube fará um debate sobre a evasão escolar na pandemia com educadores celebridades, entre eles o professor de geografia João Luiz Pedrosa, ex-participante do “Big Brother”, além do coordenador do programa de cidadania de adolescentes do Unicef, Mario Volpi.

Nesta entrevista, entre outros assuntos, Felipe Neto fala da necessidade de se controlar o uso de tela na infância, da falta de segurança nas redes sociais e nega que haja um paradoxo entre o seu investimento em educação midiática para crianças e adolescentes e o fato de esse ser o seu público-alvo. Fala dos planos de atuação para 2022, quando pretende apoiar “o cenário que estiver contra Jair Bolsonaro”.

Quando você teve a ideia de lançar um instituto de educação digital e qual é a sua expectativa em relação a esse projeto?

A ideia surgiu após começarem os ataques coordenados de bolsonaristas contra mim. A violência daquilo me fez enxergar que a única arma para vencermos esse tipo de coisa é a educação digital. Se as pessoas souberem como utilizar a internet de maneira consciente, não acreditarão em mentiras indecentes criadas para destruir reputações. O objetivo a longo prazo é que haja um ambiente mais saudável no meio digital, através da educação, blindando as pessoas de notícias falsas e de grupos de ódio. Para isso, queremos implementar cada vez mais uma metodologia de educação digital nas escolas e empresas.

Uma das questões relevantes atuais é a do excesso de tela, com prejuízos claros especialmente para crianças e adolescentes, o que foi agravado na pandemia. Como você, que tem justamente esse público, vê essa questão?

O controle do uso de tela é fundamental, principalmente na infância. Tento sempre alertar sobre isso em vídeos, especialmente quando falo diretamente com os pais. Os aplicativos estão cada vez mais sendo construídos para criar uma relação de vício com o usuário, como vemos claramente no TikTok. É importante que os pais conversem com psicólogos, pedagogos e médicos para decidir a melhor maneira de educar seus filhos nessa questão.

A Universidade de Harvard realizou um estudo que demonstrou que os algoritmos do YouTube podem levar vídeos inocentes de crianças a pedófilos, assim como conteúdos inadequados ao público infantil. Você pretende atuar mais diretamente na discussão da transparência dos algoritmos e da segurança de crianças e jovens?

Eu defendo a transparência e luto por isso há anos. O Instituto Vero também vem atuando nessa área, inclusive junto ao Congresso. É fundamental que as plataformas comuniquem como funcionam seus algoritmos e que trabalhem para combater crimes. Eu mesmo denunciei, em 2019, uma grande rede de pedofilia que agia nos comentários de vídeos de crianças no YouTube. A plataforma agiu rapidamente e implementou mudanças significativas para coibir isso. Hoje, todo criador de conteúdo é obrigado a informar se o vídeo é feito para crianças ou não. Todo vídeo infantil é checado, tem os comentários bloqueados e possui uma série de restrições impostas pela plataforma. Dentre todas as redes, o YouTube é a que mais trabalha para coibir comportamentos criminosos ou perigosos, embora ainda falte fazer muita coisa.


Esse tema ganhou destaque com as denúncias feitas por Frances Haugen, ex-funcionária do Facebook, de que a empresa ignorou pesquisas internas a respeito dos prejuízos do Facebook e do Instagram a crianças e jovens. Como isso deve ser abordado?

Não há mais dúvida que é necessário regulamentar as big techs, o grande problema é como fazer isso. Eu defendo um modelo horizontal de comitês formados pelos países e que se reúnam em comissões internacionais de debate e transparência. Já passou da hora de o mundo entender que o meio digital é uma “segunda vida” de toda a humanidade. Como tal, precisa ter debate, regras. O total liberalismo do ambiente digital nos trouxe ao caos em que vivemos, em que empresas colocam o lucro à frente da importância da vida. O Facebook não está sozinho nisso, mas recebe mais atenção por ser o maior alterador de comportamento da história da humanidade.

Como responderia a críticas sobre um possível paradoxo entre a sua militância para a educação digital de crianças e adolescentes e o fato de ter construído um império com a audiência infantojuvenil?

Em um mundo onde as pessoas recebem educação digital, influenciadores continuam fazendo sucesso e tendo milhões de visualizações. Não vejo correlação entre as coisas. O importante é que esse influenciador tenha responsabilidade com o tamanho da sua influência e responda quando cometer erros.

Como trabalha a separação entre os seus conteúdos para o Twitter, nitidamente mais políticos, e para o YouTube, concentrados em entretenimento? São duas personas Felipe Neto?

O meu canal no YouTube é o meu “programa”, onde eu sou um apresentador, ator, palhaço e tudo o mais que quiser ser. Já no Twitter eu sou apenas o Felipe, cidadão brasileiro expressando pensamentos do dia a dia.

Que expectativas tem em relação ao ambiente digital no contexto das próximas eleições? Você, que fortaleceu seu posicionamento político, tem um planejamento de atuação para 2022? Vai apoiar Lula?

Pretendo apoiar o cenário que estiver contra Jair Bolsonaro, que, sem dúvida, é o pior presidente da história da nossa democracia, disparado. Não sou lulista, não sou cirista, não faço parte de nenhum partido. Sou um cidadão progressista e que se encontra mais à esquerda no atual espectro político do Brasil. Lutarei no enfrentamento da desinformação e das campanhas de ódio que irão pautar toda a agenda bolsonarista no período eleitoral, mas não irei defender político nenhum como super-herói salvador da pátria. Seja quem for que vença a presidência, terá quatro anos de profundo terror para tentar reerguer o que Bolsonaro destruiu.

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