Por que Exu inspira lutas políticas hoje – 13/08/2022 – Ilustríssima

Por que Exu inspira lutas políticas hoje – 13/08/2022 – Ilustríssima


Exu, cultuado nas encruzilhadas, lugar de encontros e desencontros, é ele mesmo uma expressão das trocas entre as culturas africanas, americanas e europeias que moldaram o Brasil.

Mais que isso, diz o antropólogo Vagner Gonçalves da Silva, professor livre-docente da USP, essa divindade é uma das melhores metáforas para pensar traços da formação nacional brasileira e os dilemas que o país enfrenta.

Associado à boemia, à contradição, à malandragem, aos prazeres terrenos e à sexualidade —o falo proeminente é uma das marcas das suas representações—, Exu passou a ser uma das referências na construção de uma ideia de brasilidade e sua presença na produção artística do país se multiplicou ao longo do século 20.

O antropólogo, que está lançando “Exu: um Deus Afro-atlântico no Brasil” (Edusp), discute neste episódio a demonização de Exu pelos colonizadores europeus e argumenta que os terreiros foram o epicentro da formação da civilização brasileira.

Para Gonçalves, as religiões afro-brasileiras conseguiram, como poucas outras esferas de uma sociedade profundamente desigual, colocar em contato diferentes grupos sociais e as mitologias de Exu, guardião da ordem mas também promotor da desordem, podem inspirar as lutas políticas e sociais de hoje, como os movimentos antirracistas.

A segunda parte do livro analisa como o demônio foi associado à figura de Exu nas igrejas neopentecostais e como esse processo se relaciona com os frequentes ataques às religiões afro-brasileiras.



Exu foi muito bom para pensar o Brasil, porque a gente tem uma ordem de Estado e uma ordem do povo que não se coadunam. Por isso, eu argumento que o terreiro foi o epicentro da formação de uma civilização brasileira, porque ele teve que pensar muito antes de o Brasil ser Brasil em como aglutinar a diversidade —povos africanos de diferentes etnias, pessoas de diferentes gêneros e orientações sexuais etc. Isso fez com que ele produzisse, no Brasil, uma ideia do encontro

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O podcast entrevista, a cada duas semanas, autores de livros de não ficção e intelectuais para discutir suas obras e seus temas de pesquisa.

Já participaram do Ilustríssima Conversa Marcos Nobre, que denunciou o projeto golpista de Bolsonaro, Jean Marcel Carvalho França, pesquisador da história da maconha no Brasil, Vincent Bevins, autor de livro sobre massacres da esquerda durante a Guerra Fria, Rodrigo Nunes, que discutiu as raízes do bolsonarismo, André Lara Resende, crítico da teoria econômica mainstream, James Green, brasilianista autor de um clássico sobre a história da homossexualidade no Brasil, Sidarta Ribeiro, neurocientista que desenvolve pesquisas sobre a importância de sonhar, Heloisa Starling e Miguel Lago, autores de ensaios sobre a lógica de destruição do bolsonarismo, Fábio Ulhoa Coelho, professor de direito que ponderou sobre as relações entre liberdade e igualdade, Debora Diniz, acadêmica que se dedica às áreas de gênero e direitos reprodutivos, entre outros convidados.

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