Leituras da pandemia e os livros pandêmicos – 23/12/2021 – Claudia Costin

Muitos têm aproveitado estes tempos de pandemia para ler mais. Faz sentido, mesmo com o retorno ao trabalho presencial e alguma sobrecarga para quem está na linha de frente, os livros trazem a possibilidade de contato com o outro, seja ele nosso contemporâneo ou habitante de outros tempos e espaços, na busca de compreensão ou até de olvido do aqui e agora.

Decidi ler com atenção livros escritos e publicados nesta fase, apesar do intenso trabalho em que estou envolvida e de uma pretensão ousada de percorrer os chamados “Great Books”, uma coleção de livros canônicos que meu pai adquiriu ao se preparar para a aposentadoria, período em que queria realizar alguns de seus sonhos. Fiz do seu projeto, por sucessão, o meu, sem deixar de ler obras contemporâneas. Assim incluí, no meu rol de leituras, as publicações pandêmicas.

Trata-se, evidentemente, de livros que têm por tema a Covid-19 e a singularidade do tempo em que vivemos. Sendo escritos no calor do momento, correm o risco de ser suplantados por outros que apresentarão, daqui a alguns anos, uma visão mais precisa do que ocorreu, tanto no sentido científico quanto no desvelamento do que se passou nos bastidores. Mas são, sem dúvida, um registro valiosíssimo de trás das trincheiras.

Refiro-me aqui a três livros publicados em 2021. O primeiro é a obra “Contra a Realidade“, da microbiologista Natalia Pasternak e do jornalista Carlos Orsi, em que os autores analisam o negacionismo científico, como o referente a vacinas ou à mudança climática, e as teorias conspiratórias que circularam neste triste período em que vivemos, recuperando, inclusive, as que negam a ocorrência do Holocausto, apesar de ainda termos, entre nós, sobreviventes dos campos de concentração.

Outro, da pneumologista e pesquisadora da Fiocruz Margareth Dalcolmo, “Um tempo para não esquecer“, reúne textos publicados em O Globo, que ajudam a entender a evolução de nossa compreensão da pandemia e sua inadequada gestão pelo governo central, compensada por uma mobilização certeira de cientistas e de setores da sociedade civil. Pude levar Margareth para falar com meus alunos de mestrado em educação da Universidade de Harvard e este foi, sem dúvida, um dos pontos altos do curso.

O terceiro livro, do ex-ministro da Educação e presidente da SBPC Renato Janine Ribeiro, “Duas ideias filosóficas e a pandemia”, avança numa reflexão filosófica, com base em pensadores clássicos que produziram algumas das obras que herdei do meu pai, sobre a ética, em especial a compaixão, e nossas tarefas frente ao que estamos vivendo.

Recomendo vivamente a leitura dos três!

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.