Kalaf Epalanga critica ‘politização da lusofonia’ – 08/12/2022 – Ilustríssima

Kalaf Epalanga critica ‘politização da lusofonia’ – 08/12/2022 – Ilustríssima


“Quem ama a língua portuguesa tem que amar as línguas nacionais”, disse o escritor angolano José Eduardo Agualusa na sétima mesa do ciclo Perguntas sobre o Brasil, realizada na tarde desta quarta-feira (7).

Promovido pelo Centro de Pesquisa e Formação (CPF) do Sesc São Paulo, pela Associação Portugal Brasil 200 anos (APBRA) e pela Folha, o evento debateu o tema Lusofonia: Fato ou Ficção?

Agualusa, autor de livros como “Nação Crioula” e “A Sociedade dos Sonhadores Involuntários”, faz uma referência às línguas maternas de Angola e Brasil para expandir uma ideia de lusofonia, que abarque não apenas a comunidade dos países de língua portuguesa, mas também os seus povos.

“Há línguas indígenas no Brasil que são consideradas línguas nacionais e, infelizmente, ao longo das décadas, têm sido desprezadas”, reflete o escritor. “Essa questão é muito semelhante ao que se passa em Angola e Moçambique, onde o português tem crescido às custas das línguas nacionais”.

Ao lado de Agualusa, estava o músico e também escritor Kalaf Epalanga, nascido em Benguela, em Angola, e radicado em Berlim. Em sua exposição, ele rechaçou uma ideia de lusofonia que venha de cima, sem trocas entre os povos falantes da língua.

“Tem-se visto assistir a uma politização da lusofonia, como se ela fosse exclusiva dos detentores da cultura ou de quem define a cultura em si”, ele lamenta.

“Os povos periféricos, aqueles que têm menos voz e menos participação na construção dessa ideia e dessa família linguística que nos é comum, vivem um pouco à mercê dos ventos que vêm de Portugal“.

Apesar das trocas culturais que têm se intensificado ao longo dos anos, especialmente após 1996, quando foi criada a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), não é simples defender uma ideia comum de lusofonia.

Os debatedores concordam, entretanto, que essa comunidade vai muito além dos limites territoriais de cada país-membro e acaba abrangendo, de diferentes formas, os cerca de 250 milhões de falantes da língua e suas múltiplas concepções de lusofonia.

Segundo Agualusa, “a lusofonia existe porque essas sociedades [refere-se às sociedades dos países falantes de língua portuguesa] têm feito esse trânsito de ideias e trocas, mais do que nunca, primeiro devido às novas tecnologias e segundo porque há mais circulação de pessoas”.

A mesa teve mediação de Francis Manzoni, historiador e editor nas Edições Sesc, e a apresentação ficou a cargo de de Patrícia Dini, integrante da equipe de programação do CPF.

O evento foi transmitido pelos canais do Sesc São Paulo, do Diário de Coimbra e da APBRA no Youtube e pode ser visto abaixo, em versão integral.

Iniciado em setembro, o ciclo de diálogos Perguntas sobre o Brasil se inspira no projeto 200 anos, 200 livros. A iniciativa, capitaneada pela Folha, pela APBRA e pelo Projeto República (núcleo de pesquisa da UFMG), listou duas centenas de obras importantes para se entender o Brasil no ano em que é celebrado o bicentenário da Independência.

A cada duas semanas, até maio de 2023, serão debatidos temas como autoritarismo, ritmos musicais e religiões de matriz africana, além de analisadas as contribuições de escritores como Jorge Amado, Guimarães Rosa e Euclides da Cunha.

Veja aqui a programação completa e conheça os próximos temas.

Fonte: Acesse Aqui o Link da Matéria Original