Horror da bomba atômica de Hiroshima ainda não foi superado – 15/03/2022 – Karla Monteiro

Horror da bomba atômica de Hiroshima ainda não foi superado – 15/03/2022 – Karla Monteiro


Quase 80 anos se passaram —e o horror daquele ataque de um país contra outro (ainda) não foi superado. Eram precisamente 8 horas e 15 minutos, do dia 6 de agosto de 1945, quando os Estados Unidos lançaram sobre Hiroshima uma bomba atômica. Mais de 70 mil pessoas morreram imediatamente, e outras 50 mil logo estariam mortas, vítimas da radiação.

Segundo apressou-se em informar o presidente Harry S. Truman, a cidade de Hiroshima guardava uma importante base militar e a bomba em questão possuía a potência de 20 mil toneladas de TNT. Três dias depois, ele ordenaria outro massacre, dessa vez em Nagasaki, arrancando a rendição do Japão e colocando um ponto final na Segunda Guerra Mundial.

Se você ainda não leu, talvez tenha chegado a hora de enfrentar as 176 páginas de “Hiroshima”, o clássico de John Hersey, lançado no Brasil em 2002 pela Companhia das Letras. Não é fácil, é nauseante. A cada linha, eu me perguntava: como isso pôde acontecer? Mas o fato é que aconteceu e, pelo jeito, pode acontecer de novo.

A obra-prima de Hersey começou a nascer logo após o pronunciamento de Truman. Conforme pesquisa do Instituto Gallup, 85% dos norte-americanos aprovaram o extremo evento. Como repórter da revista The New Yorker, ele cobrira os campos de batalha da Europa e do Pacífico. Numa de suas reportagens, inclusive, havia descrito os japoneses como “pequenos animais”. Mas uma bomba atômica era cruzar a linha. Na sua opinião, um crime de guerra.

Um ano depois, em agosto de 1946, um convite vinha a calhar. O celebrado editor da New Yorker William Shawn lhe propôs uma viagem ao Japão. Diante da campanha de glorificação dos Estados Unidos, pouco se sabia sobre as consequências do bombardeio em Hiroshima. Sua missão era escrever uma reportagem padrão, sem maiores pretensões, relatando a reconstrução do país.

Durante a viagem de navio, porém, Hersey leu “A Ponte de São Luís Rei”, de Thornton Wilder. Na obra, um padre franciscano investigava a vida de cinco pessoas que morreram ao atravessar uma ponte suspensa na estrada para Cuzco, no Peru. Sem saber o que encontraria no Japão, decidiu: iria buscar histórias individuais, o ser humano nos escombros da humanidade —ou desumanidade.

Ao regressar, o repórter, com sua espetacular habilidade de romancista, estampou na New Yorker o retrato do horror. A reportagem ocupara todas as páginas da edição de 31 de agosto de 1946. Segundo informava o editor, na abertura da publicação, a decisão de dedicar o número à Hiroshima devia-se ao fato de que, até então, poucos haviam compreendido o poder destrutivo de uma bomba atômica.

“Hiroshima”, a reportagem publicada depois em livro, reconstruía, minuto a minuto, os passos de seis sobreviventes do bombardeio, capturando narrativas pessoais dentro da massa caótica da tragédia. A linguagem é sóbria, quase impessoal. Tanta dor dispensava adjetivos.

No estilo posteriormente popularizado pelo novo jornalismo, Hersey fez o que ninguém havia feito. Ele costurou relatos do inferno, com o vento quente soprando sobre a cidade devastada, do ponto de vista de quem estava lá, indefeso, à mercê da insanidade dos poderosos.

Começa assim: “No dia seis de agosto de 1945, precisamente às oito e quinze da manhã, hora do Japão, quando a bomba atômica explodiu sobre Hiroshima, a srta. Toshiko Sasaki, funcionária da Fundição de Estanho do Leste da Ásia, acabava de se sentar a sua mesa, no departamento de pessoal da fábrica, e voltava a cabeça para falar com sua colega ao lado”.


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